segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Bullying não é Brincadeira...




O Bullying é uma situação que se carateriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas.
O termo Bullying teve origem da palavra «bully», que significa valentão.Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação e humilhação.
O bullying pode ocorrer em qualquer contexto social, como escolas, universidades, famílias, vizinhança ou, até mesmo, em locais de trabalho. O que, à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa.

Além de um possível isolamento ou queda do rendimento escolar, crianças e adolescentes que passam por humilhações racistas ou difamatórias podem apresentar doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que vai influenciar a personalidade. Em alguns casos extremos de bullying, chega mesmo afetar o estado emocional de tal maneira que muitas das vezes a vítima opte por soluções mais trágicas, como por exemplo o suicídio.


Por que ocorre?
O autor do bullying atinge o colega com repetidas humilhações. É uma pessoa que não aprendeu a transformar a raiva em diálogo e para quem o sofrimento do outro não é motivo para ele deixar de agir. Pelo contrário, sente-se satisfeito com a opressão do agredido, supondo ou antecipando o quão doloroso será aquela crueldade vivida pela vitima. 
Contudo o agressor promove o bullying porque:

  • quer ser o mais popular;
  • quer sentir-se o poderoso;
  • quer obter uma boa imagem de si mesmo perante todos os que o admiram.
Juntando o agressor e a vítima, quem assiste também participa no bullying. É comum pensar que há apenas dois envolvidos no conflito, mas não é verdade. Quem assiste mesmo que não faça parte do ato de bullying, não sai em defesa da vítima, tem um comportamento passivo, podendo ocorre por medo de poder vir a ser um alvo de ataque ou por falta de iniciativa para tomar partido.
Também são considerados quem assiste os que atuam como plateia, os que reforçam a agressão, os que riem ou os que incentivam o ato através de palavras. São estes que passam a mensagem através de imagens (vídeos), partilhando as mesmas na Internet, tornando-os os coautores. 

O alvo do bullying costuma ser uma criança/adolescente com baixa auto-estima e que se sente retraído tanto na escola como no seu ambiente familiar. Devido a estas caraterísticas, dificilmente o alvo consegue reagir. Aqui entra a repetição do bullying, pois se o aluno procura ajuda, a tendência é que a provocação acabe. 
Além dos dos traços psicológicos, os alvos deste tipo de violência costumam apresentar particularidades físicas. As agressões podem ainda abordar aspetos culturais, étnicos e religiosos. Pode também acontecer a um aluno que tenha ido para uma nova escola ou que seja bonito, podem acabar por ser perseguidos pelos colegas.

O alvo que sofre de bullying, principalmente quando não pede ajuda, enfrenta medo e vergonha de ir à escola. Pode querer abandonar a escola, não se achar bom para integrar o grupo e apresentar baixo rendimento escolar.
Sabe-se que uma percentagem das vítimas nunca procuram ajuda ou nunca falam sobre o problema, nem mesmo com os colegas. Muitas das vezes as vítimas chegam a concordar com a agressão, dizendo: «Se sou gorda, por que vou dizer o contrário?».
Os que podem reagir alternam momentos de ansiedade e agressividade. Para mostrar que não são covardes ou quando se apercebem que os seus agressores ficam impunes, os alvos podem escolher outras pessoas mais indefesas e passam a provocá-las, tornando-se alvo e agressor ao mesmo tempo.

Tanto a agressão física ou a emocional são graves e causam danos ao alvo do bullying. 
Por ter consequências imediatas e facilmente visíveis, a violência física muitas das vezes é considerada a mais grave do que insultar, embora a emocional deixe muitas marcas psicológicas até ser adulto, o que prejudica o desenvolvimento da personalidade do alvo do bullying.

Por vezes perguntam-me se existe alguma diferença entre o bullying praticado por rapazes e raparigas. De modo geral, existe algumas diferenças. O comportamento dos rapazes é mais expansivo e agressivo, mais fáceis de identificar. Eles gritam, empurram e batem.
Já no universo feminino o problema apresenta-se através de boatos, olhares e exclusão. As raparigas raramente dizem que o fazem. Quem sofre não sabe o motivo e sente-se culpada. Agem dessa forma porque a imagem que a sociedade espera delas é de serem boas raparigas, dóceis e passivas. Para demonstrar qualquer sentimento contrário utilizam meios mais discretos. Tenho de admitir que as raparigas também sentem raiva. A agressividade é natural do ser humano. Contudo, começamos a presenciar agressões físicas por parte das raparigas, com o objetivo de popularidade.

Se estamos num ambiente escolar, pode surgir bullying dentro da sala de aula. Caso surja uma situação no género, a intervenção deve ser imediata. O professor pode identificar os autores do bullying: autores, espectadores e os alvos. Será necessário distinguir o limiar entre uma piada aceitável e uma agressão. 
Conselhos possíveis:
  • incentivar a solidariedade, a generosidade e o respeito às diferenças por meio de conversas, campanhas de incentivo à paz e á tolerância, trabalhos didáticos, como atividades de cooperação e interpretação de diferentes papéis em um conflito.
  • desenvolver em sala de aula um ambiente favorável à comunicação entre alunos.
  • quando algum aluno fizer queixa de ser alvo de bullying, o professor deve procurar a direcção da escola e expor a situação.
Pode surgir dentro, como também pode surgir fora da sala de aula. O professor é um exemplo fundamental de pessoa que não resolve problemas com violência. 
Não adianta, pensar que o bullying é só um problema dos encarregados de educação quando ocorre do na escola. É papel da escola construir uma comunidade na qual todas as relações são respeitadas. Deve-se consciencializar os pais e os alunos sobre os efeitos das agressões fora do ambiente escolar, como por exemplo: Internet.
A intervenção da escola não passa pelo agressor e pela vítima, mas também passa dos que assistem ao bullying de forma pacífica. 

Podemos considerar o professor também um alvo de bullying?
Conceitualmente, não, pois, para ser considerado bullying, é necessário que a violência ocorra entre pares, como colegas de escola ou de trabalho. 
O professor pode sofrer outro tipo de agressões, como injurias, difamação ou físicas, por parte de um ou mais alunos. Mesmo não sendo entendida como bullying, trata-se de uma situação que exige reflexão sobre a convivência entre os membros da comunidade escolar. Quando as agressões ocorrem, o problema está na escola como um todo.
O professor é a autoridade na sala de aula, mas essa autoridade só é legitima como reconhecimento dos alunos em relação ao respeito mútuo.

Podemos falar de algumas atitudes para que o bullying possa vir a ser evitado, proporcionando um ambiente saudável na comunidade escolar:

  • conversar com os alunos e escutar atentamente as reclamações ou as sugestões.
  • estimular os alunos a informar casos de bullying.
  • reconhecer e valorizar as atitudes dos alunos no combate ao problema.
  • criar com os alunos regras de disciplina na sala de aula.
  • estimular lideranças positivas entre os alunos, prevenindo futuros casos.
  • interferir diretamente nos grupos, o quanto antes, para quebrar a dinâmica do bullying.
O 1.º passo é admitir que a escola é um local passível de bullying, sendo necessário informar os professores e alunos sobre o que é o problema e deixar bem claro que o estabelecimento de ensino não admitirá a prática de bullying.
A escola não deve ser apenas um local de ensino formal, mas também de formação cívica de direitos e deveres, amizade, cooperação e solidariedade. Agir contra o bullying é uma forma barata e eficiente de diminuir a violência entre os alunos e na sociedade. 

Quando os alunos envolvidos num caso de bullying, o foco deve voltar-se para a recuperação de valores essenciais, como o respeito pelo que o alvo sentiu ao sofrer a violência. 
A escola não deve legitimar a atuação do autor da agressão, nem humilhá-lo ou puni-lo com medidas não relacionadas ao mal causado, como por exemplo: proibi-lo de frequentar o intervalo. 
Já o alvo precisa de ter a autoestima fortalecida e sentir que está num lugar seguro para falar sobre o que aconteceu. É preciso consciencializar a quem assiste ao bullying que acaba por «adoçar» a ação do autor. A exibição de filmes que retratam o bullying pode ajudar no trabalho. A partir do momento que a escola fala com quem assiste à violência, o público irá parar de «aplaudir o espetáculo« e o autor começa a perder a fama, a popularidade. 

O que mais me entristece é quando os autores do bullying escolhem outro tipo de alvos. Alvos estes inofensivos, que não sabem como se defender. Estou a falar dos alunos com deficiência.
Deve-se conversar abertamente sobre a deficiência, tendo de ser uma ação quotidiana na escola. O bullying contra alunos com deficiência costuma ser estimulado pela falta de conhecimento sobre as deficiências, sejam elas físicas ou intelectuais, e, por vezes, pelo preconceito trazido de casa.
É normal os alunos reagirem negativamente diante de uma situação desconhecida e diferente. Cabe ao professor estabelecer limites para essas reações e procurar erradicá-las  não pela imposição, mas por meio de consciencialização e esclarecimento. 

Não se trata de estabelecer vítima e culpados quando o assunto é o bullying. Isto só reforça uma situação polarizada e não ajuda em nada a resolução dos conflitos. Melhor do que culpar o aluno e vitimar o outro é desatar os «nós» da tensão por meio do diálogo. A violência começa em tirar do aluno com deficiência o direito de ser um participante do processo de aprendizagem. É tarefa dos professores oferecerem um ambiente agradável para todos, especialmente os que a deficiência, se desenvolva, com respeito, harmonia e aceitação.

A tarefa mais difícil neste processo é quando existe a necessidade de conversar com os encarregados de educação sobre o bullying.
O 1.º passo será necessário mediar a conversa e evitar o tom de acusação de ambos os lados. Este tipo de abordagem não irá mostrar como o outro se sente ao sofrer bullying. Deve ser sinalizado aos pais que alguns comentários simples, que julgam até ser inofensivos e divertidos, são carregados de ideias preconceituosas. 

O ideal é que a questão da reparação da violência passe por um acordo conjunto entre os envolvidos, no qual todos consigam ver em que ponto o alvo foi agredido para, assim, restaurar a relação de respeito. 
Muitas vezes, a escola trata de forma inadequada os casos que são relatados por pais e alunos, responsabilizando a família pelo problema. É o papel dos professores sempre criarem um diálogo com os pais sobre os conflitos - seja o filho alvo ou autor do bullying, pois ambos precisam de ajuda e apoio psicológico. 

No inicio falei que no bullying pode surgir casos extremos. A primeira ação deve ser mostrar aos envolvidos que a escola não tolera determinado tipo de contudo e por quê. Nesse encontro, deve-se sempre abordar a questão da tolerância ao diferente e do respeito por todos, inclusive com os pais dos alunos envolvidos.
Mais agressões ou ações impulsivas entre os envolvidos podem ser evitadas com espaços para o diálogo. Uma conversa individual com cada um funciona como um desabafo e é função do professor mostrar que ninguém está sozinho.
Os alunos e os pais têm a sensação de impotência e a escola não pode deixá-los abandonados. É mais fácil responsabilizar a família, mas isso não irá contribuir para resolver o problema/conflito.
A conversa com todos os envolvidos não pode ser feita em tom de acusação. Deve-se pensar em várias maneiras de mostrar como o alvo do bullying sente-se com a agressão e chegar a um acordo em conjunto. E, depois de alguns dias, dever-se-à perguntar como está a relação entre os envolvidos.

O bullying é um problema sensível, pois envolve alunos que convivem numa comunidade, será necessário a união da comunidade escolar e da família, para que a prevenção seja eficaz. 


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