Uma criança de qualquer classe social ou idade, nos dias de hoje, raramente encontra no meio familiar uma vivência de alegria, de participação e de comunicação afetiva. Isto deve-se ao muro de indiferença que emerge no seio familiar, onde os pais e os filhos acabam por perder a confiança afetuosa e a compreensão constante.
A UNICEF advertiu as autoridades quanto aos abusos cometidos contra a infância. Demonstra que 7,5 milhões de crianças entre os 10 e 17 anos precisam de trabalhar para sobreviver, 97 mil crianças antes de 1 ano morrem e milhões de crianças fogem das escolas, são expulsas e/ou reprovadas.
O Direito de Brincar está reconhecido no principio da Declaração dos Direitos da Criança, adotados pela Assembleia Geral da ONU a 30 de Novembro de 1959, e é considerado tão fundamental para a criança como o Direito à saúde, á segurança ou à educação (Instituto de Apoio à Criança - Declaração do IPA sobre a Criança e o Direito de Brincar).
Brincar, ocupa dentro dos meios de expressão da criança um lugar privilegiado, sendo também uma aprendizagem para a vida adulta.Ao brincar e ao jogar a criança aprende a conhecer o seu próprio corpo e as potencialidades, desenvolve a personalidade e encontra um lugar na comunidade. Brincar é superar a frustração, o que implica a distração, o divertimento, a investigação, a criação e a evolução.
Jogar e Brincar permite à criança o crescimento, a integração e o desenvolvimento. A criança Joga e Brinca para descobrir o mundo, ou seja, as pessoas e tudo que a rodeia, tudo isto para ser reconhecido pelos outros, para aprender a observar o seu ambiente, para conhecer e para dominar o seu mundo.
Montessori referiu que «a criança, um ser em criação. Cada ato é para ela uma ocasião de explorar e de tomar posse de si mesma; ou, para melhor dizer, a cada extensão a ampliação de si mesma. E esta operação, executa-a com veemência, com fé: um jogo contínuo. A importância decorre de conquista em conquista, uma vibração incessante». (Educação Lúdica Técnicas e Jogos Pedagógicos)
No ponto de vista do desenvolvimento da pessoa, Jogar e Brincar, são uma necessidade, porque iniciam uma boa relação com a realidade de forma agradável e permitem a integração no mundo das relações sociais.
Os jogos contribuem para o desenvolvimento, a ação, a decisão, a interpretação e a socialização da criança, onde aprende a ser ela própria, a ser um individuo, a respeitar a sua personalidade e a respeitar os outros, ou seja:
- dar importância a si mesmo;
- acreditar nas suas potencialidades;
- aceitar os seus valores.
Os jogos oferecem à criança a possibilidade de ser e estar ativa face à realidade. A criança suporta tensões, obrigações, passividades, mais ou menos impostas pelos pais, pela moral, pela natureza e pela própria realidade das coisas, e uma das alternativas que tem é a de aproveitar ludicamente a realidade e com ela brincar.
O jogar e o brincar devem ser uma função essencial na vida das crianças, devem surgir espontaneamente e sem ajuda, ou pode ser orientada pelo Educador e converter-se numa preparação para a vida social e pessoal, sem perder o seu valor afetivo e o seu poder criativo.
A forma de jogar não é só uma, há que respeitar a escolha livre das atividades realizadas e a alegria e a motivação que suscitam. Tal como Montessori, o Claparéde afirmou que «a criança tem uma vida própria: a sua vida. Essa vida, ela tem o direito de vivê-la, e vivê-la feliz». (Educação Lúdica Técnicas e Jogos Pedagógicos)
Sabemos que é impossível utilizar a atividade lúdica sem lhe dar forma de jogo.
A criança que joga e brinca não destrói, não esbanja as suas forças, não desperdiça energias e não é rebelde.
Segundo a definição de Huizinga, o Jogo é «uma ação ou atividade voluntária que se desenvolve sem interesse material, realidade dentro de certos limites fixos de tempo e espaço, segundo uma regra livremente consentida, mas absolutamente imperiosa, provida de um fim em si mesma, e acompanhada de um sentimento de tensão e alegria». (O jogo infantil - Instituto de Apoio à criança)
O jogo não é para a criança uma diversão improdutiva nem um trabalho obrigatório, determina certas ações que permitem revelar habilidades, exercitar aptidões que levam à realização de descobertas e á formação do comportamento.
Quando se fala de Jogo, estamos a referirmo-nos a uma atividade muito especial que cumpre com uma série de caraterísticas distintas, capazes de converter numa forma única:
- livre e voluntária;
- divertida, prazerosa e satisfatória;
- satisfatória para o jogador (criança), o que implica o riso, o gosto, o sentimento e o prazer;
- gratuito na sua essência, toda a criança joga sem cobrar pelo jogo;
- participativo e implica certo grau de comunicação;
- oferece a possibilidade de desinibir e de superar os limites do dia-a-dia;
- limitado no espaço e no tempo;
- global e total.
A entrega total à fantasia e ás situações imaginárias que os jogos oferecem, permitem a libertação e a revelação de poderes para criar, imaginar, de ser si mesmo, saber comunicar desconhecidos.
É este o verdadeiro Valor e Interesse do Jogo e do Brincar.
Deixem as crianças brincar e sentir a sensação do jogo verdadeiro. Há que consciencializar os pais da importância do brincar, e brincar não será com as novas tecnologias mas sim com brinquedos e jogos, para que os filhos consigam ser pessoas para uma vida adulta saudável.
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