quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Lágrimas que correm pelo meu rosto

Acordei quando senti as gotas a caírem pelo meu rosto. Será que é chuva ou será que são lágrimas? Olhei para o céu, e nem uma única nuvem negra, carregada para explodir sobre os grandes edifícios e sobre as pessoas que circulavam nas ruas.
Percebi que eram realmente lágrimas que escorriam pelo meu rosto de tristeza, escorriam como se usassem o meu rosto um escorrega.
Escorriam alegres...alegres? Porquê? Se quando choro é de tristeza...mas coitadinhas estiveram á tanto tempo presas dentro dos meus olhos, quando as libertei ficaram contentes. Até as lágrimas são felizes.
Percorro as ruas, há procura de comida. Peço aqui, peço ali, peço... Transformei-me num «pedinte andante», um pedinte que só quer comer uma vez por dia, pois não tem mais por onde buscar.
Que vida levo agora! 
Mas se recuar, até fui feliz em tempos...

Cresci numa casa feliz, onde a educação e a transmissão de valores eram essenciais, para que eu e os meus irmãos...sim irmãos. Tenho dois irmãos (a Sara e o Pedro). 
Éramos felizes. Brincávamos e brigávamos, mas no meio destas tempestades todas éramos unidos.
Fizemos os três a faculdade: A Sara tirou o curso de superior de Professora de 1.º Ciclo, dizia ela que adorava crianças e que adorava ensinar-lhes a ler e a escrever; o Pedro tirou o curso de Desporto, amante do ar livre e de desportos radicais; e, eu (Tiago) andava a tirar o curso de gestão, pois adorava dinheiro e tudo que envolvesse a economia. Éramos os filhos que qualquer família gostaria de ter. 

A Sara e o Pedro foram os primeiros a casar e a dar netinhos (como o meu pai os chamava).  Eu gostava mais da vida boémia, de sair com os amigos até ás tantas, de saltar de rapariga em rapariga.

Mas o destino pregou-me uma partida.
Apaixonei-me perdidamente por uma rapariga no meu último ano da faculdade. Em plena serenata, reparei numa linda morena. Meti conversa com ela, finalista de Enfermagem, seu nome Maria. Conversa aqui conversa ali, começamos a dar-nos conta que tínhamos muita coisa em comum. Quanto mais falava com ela, mais deslumbrado ficava. Tinha os olhos de cor de amêndoa, o cabelo cor de alcatrão e a sua boca cor de cereja. 
Acabamos o curso e namoramos três anos até ao dia no nosso casamento. Sim, casamento. O rapaz das noitadas, pediu em casamento a mulher da sua vida e casou com ela, num dia lindo de verão. Foi o começo de uma nova vida e de uma nova etapa a dois.

Nos primeiros anos tudo corria maravilhosamente bem. Depois com a ganância de ter uma vida de rico, aceitei fazer parte de uma empresa de investimento. Não tinha horários, nem fins de semana. A minha vida era só trabalho, trabalho e esquecia-me da minha vida pessoal. 
Passei horas e dias sem dormir. Era desgastante. 

Nasce o meu primeiro filho: Miguel. Lindo, perfeito, um ser inocente, mas maravilhoso. Prometi à Maria que iria passar mais tempo em casa para acompanhar o crescimento do Miguel. 
Mas foi o contrário...passava menos tempo em casa, e quando estava em casa discutíamos, e eu respondia que tinha de ganhar mais dinheiro porque a família tinha aumentado. Maria olhava para mim com tristeza e calava-se. 

Nasce o meu segundo filho, neste caso filha: Madalena. Outro ser lindo, perfeito, maravilhoso e único. Mais uma promessa, mais um incumprimento. 

As exigências no emprego cada vez eram maiores, tinha de cumprir objetivos, nem que tivesse de ficar a dormir no trabalho. Comecei a perder clientes que investiram e começaram a ver o seu dinheiro a desaparecer. A economia cada vez estava pior e não sabíamos como havíamos de ultrapassar, sem que perdêssemos o dinheiro dos mesmos. O meu chefe não estava nada contente com os resultados, pois a empresa estava a perder clientes e credibilidade. Mas que culpa tinha eu, se a economia estava em queda? Tinha e muita, segundo o meu chefe. 

Comecei a pensar que tinha uma esposa e dois filhos para cuidar e se perdesse aquele emprego como haveria de continuar a sustentar a família. 
Nada, mas nada surgia. E cada vez menos ia a casa e cada vez mais perdia clientes.
O dia que marcou a minha vida e me transformou no que sou hoje, foi quando Maria fez me um ultimato: ou ela ou o emprego. 
Tinha de ter os dois. Não havia hipótese de escolha, ambos eram necessários faziam parte da minha vida. 
Maria disse-me: «És bom  no que fazes, podes encontrar outro emprego». Mas eu não queria outro emprego, queria aquele. Queria a ela e os meus filhos. Queria a família. Queria tudo.
Os meus pais e os meus irmãos sempre me avisavam: «Tem cuidado Tiago, um dia vais perder a tua família e o teu emprego se achares que o mais importante és só tu e mais tu. Quem tudo ganha tudo perde». 
Agora percebo o que queriam dizer. 

Maria pede o divórcio, com aquele olhar triste e de certo que ainda me amava, mas já não conseguia viver com uma pessoa «egoísta, só pensas em ti e esqueceste que na tua vida também somos nós: eu e os teus filhos fazemos parte dela» (palavras de Maria).
O meu chefe despede-me alegando: «Diminuição de despesas e de pessoal devido à crise económica que se verificava no mundo». Boa argumentação. 

Nesse dia, não tive coragem de voltar a casa. Tinha perdido a família e o emprego. 
Como haveria de suportar as despesas, a vida que se tinha, o divórcio? 
Não sabia. Vaguei pelas ruas horas e horas, sem destino, sem rumo. Parei num bar e bebi até cair. Sempre ouvi dizer que beber não mata mas faz com que se esqueça.  
Acordei e só me lembro de estar sem carteira, a sangrar e com a cara dorida. Não me lembrava de nada e nem onde estava. Como se alguém me tivesse apagado a memória e de todas as recordações que tinha. Ou talvez fosse eu que quisesse que fossem apagadas. 

Agora aqui estou na rua, a mendigar. Sim, um sem-abrigo. Mais um nas ruas, mais um nas estatísticas, que todas as noites procura um abrigo para dormir, mais um que pede para comer, mais um que é ignorado e desprezado, mais um e mais um. Um nada... 
Que tem vergonha de voltar a casa pelo seu insucesso e pelos seus erros. Como eu também, há muitos colegas que andam a vaguear pelas ruas á procura de força para voltar ás origens. Eu sou uma das poucas estórias, existem outras muito mais difíceis e com maiores dramas.
Eu sou um simples homem, eu sou um sem-abrigo que está a pagar por ter perdido o que mais valioso que um homem poderá ter: a Família. 
Talvez um dia ganhe coragem e volte. Talvez um dia me aceitem. Talvez um dia eu nem seja eu...
Acordei quando senti as gotas a caírem pelo meu rosto. Será que é chuva ou será que são lágrimas? São lágrimas, lágrimas que escorrem pelo meu rosto...um dia...espero um dia...por uma resposta!


  

Tu que apareceste sem dizer nada...

Apareceste sem avisar, sem um único sinal, ou talvez até tenhas avisado mas de forma suave, como uma brisa de vento leve a bater no meu rosto.
Apareceste e invadiste a minha vida pessoal, a minha vida profissional, o meu espaço. 
Destruíste quem a meu lado vivia e quem não vivia. 
Não sabes o quanto me doí a tua vinda ao meu mundo.
Não sabes o quanto me doí a tua existência.
Não tenho sentido do que me rodeia, do que me alcança, e saber que um dia, talvez ele perto, nada a meu redor vai fazer sentido. 
Não sei qual o caminho que vou percorrer, pois andas sempre atrás de mim, como se da minha energia e da minha força dependesse a tua vida, a tua existência. 

Doí saber que adorava ler e escrever, e agora as palavras falham da minha boca, da minha mão e do meu pensamento. Palavras que faziam de mim um ser único, um ser sabedor, um ser culto...e agora...sou um nada...!

Olho para o horizonte e não sei o que vejo, pois faltam as palavras na minha boca para descrever a maravilha das cores, dos cheiros, dos sons, do mundo.
Sinto que tiraste tudo de mim. Porquê? Que fiz eu para me tirares a minha vida, a minha família, os meus amigos, as minhas palavras, os meus sentimentos?


Sabes que o ser humano vive disto tudo e de recordações.
Recordações...! Nem me lembro delas...até as memórias tiraste de mim. Transformaste-me num fantasma, numa transparência, numa loucura.
Não sei o meu passado, o meu presente e o meu futuro. Até isto te apoderaste, como se fosse cancro se tratasse. 

Luto diariamente contra ti, luto com todas as minhas forças, luto com toda a minha energia...mas a luta é dura...e longa. Tento ganhar as batalhas que tenho contra ti, mas sem sucesso. 

E tu que vieste sem avisar, ou talvez até tenhas avisado mas de forma suave, como uma brisa de vento leve a bater no meu rosto, zumbaste, cheia de alegria de mais uma batalha ganha por ti.

Não sei quem sou, não conheço quem me rodeia. Sabes o quanto sofro não saber o meu nome? Não sabes, pois não. Porque não tens sentimentos, és fria, calculista e medonha. 
A mágoa, o desconsolo, a tortura, a dor que me envolve nesta minha vida é dela que te alimentas e que fornece forças para destruíres outros que neste momento passam o mesmo que eu.  

Resta-me pouco, mas gostava de sentir o sabor das palavras, dos sentimentos, dos nomes, das cores, dos sons. Adorava levar comigo para a luz brilhante que surge diante de mim as memórias da minha infância, da minha adolescência, da minha amada, dos meus filhos, dos meus amigos. 

Sinto que tive bons e maus momentos, tive alegrias e desilusões, tive amor e tristeza, juras não concretizadas, viagens feitas e não feitas. 
Sinto que não disse tudo a todos e mais alguns.
Sinto que as palavras me faltavam para dizer o quanto devia ter dito e quanto devia ter amado.
Sinto que o caminho está a ficar pequeno demais para continuar esta viagem de princípio e fim. Sei que a luz que me levará para outro mundo, onde TU não terás lugar.

A minha maior dor e preocupação é saber que ficarás aqui, neste mundo maravilhoso, com pessoas maravilhosas, a quem tu irás destruir a vida tal como destruíste a minha.

Acredito que um dia alguém mais inteligente que tu, te irá destruir, encontrará um meio para que tu não destruas a vida de mais ninguém, um meio em que tu irás perder. 
Quando acontecer, as tuas batalhas serão em vão, pois a guerra será ganha, e EU, ELE, NÓS, VÓS e ELES estaremos aqui sentados nas nuvens a ver-te desaparecer lentamente como as ondas desaparecem na areia da praia. 

EU morro sem saber o meu nome, mas morro a saber o TEU para que o mundo saiba quem me destruiu, quem me derrubou quando já não conseguia mais lutar. TU serás travada e humilhada. TU não serás ninguém. TU serás um rabisco, um desenho mal feito. A ti me despeço, mas acreditando que serás eliminada e destruída, e nunca mais irás fazer sofrer o EU, o ELE, o NÓS, o VÓS e o ELES.  
Findo, dizendo que O TEU nome é Alzheimer. 


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Socorro, onde pára a Família?

O que é a família?
Há múltiplos pontos de vista e diferentes definições para o conceito de família.
Primeiro temos de considerar que os laços de sangue, serão definidos como uma família extensa, onde estariam: avós, tios, primos e depois temos a família conjugal: esposos e filhos, e em alguns casos, os avós.
A união de um casal e a sua coexistência com os filhos não é por si só uma família. Constituem de uma família um pai, uma mãe e os filhos com um ente muito particular que é o Lar.É aqui que se cria um equilíbrio entre o amor, a autoridade, a solidariedade e a rivalidade. 

A família é o pilar da vida que rodeia o individuo e/ou indivíduos, é a forma básica da estrutura social, que questiono devido à complexidade. Diz-se que a família está em crise, havendo uma perda de valores que envolve a família. Quase se pode dizer que não será a família que está em crise mas sim os valores que deviam fazer parte da mesma. 
Com a evolução social, económica, tecnológica, política e ,até mesmo religiosa, a família não consegue acompanhar toda a evolução ao ritmo do mundo.A família começou a viver cada um para os seus umbigos.

Qual o futuro da família?

A resposta é difícil, isto porque dentro da família existem indivíduos com personalidades diferentes, o que dificulta o caminho que ela terá de percorrer, sendo este muito doloroso e penoso. 

Acredito que existem três tipos de família:a autoritária, a liberal e a «top».

A família autoritária, é a tradicional, onde a autoridade, predeterminação dos papéis e o sacrifício da individualidade das pessoas não existe. A imagem da autoridade é o homem: marido/pai. 
Aqui os direitos não são valorizados, mas sim os deveres de todos os elementos da família, caso vá contra as regras, a penalização será dura. Este tipo de família pode prejudicar a evolução da personalidade dos elementos. Estes valores autoritários serão transmitidos ás gerações seguintes, até que a corrente poderá vir a ser cortada.

A família liberal é a típica família que regras e normas não existem, se existem não são aplicadas ou então não são transmitidas. 
É a família mais complexa e mais difícil de fazer entender que o caminho que estão a percorrer em relação aos filhos não é o mais correto. Podendo utilizar a frase tipo:«São meus filhos, eu sei os educar e não será ninguém de fora que o me vai ensinar. Estão bem educados!». 

Neste tipo de família o mais fácil será os filhos se auto educarem, pois educar os filhos é uma tarefa  difícil, requer tempo e paciência. 
Há que deixar as crianças fazerem o que desejam ou então ao mínimo sinal de birra há que dar o que eles querem, pois assim «calam-se e não chateiam». 
Como por exemplo: «Se passares de ano, dou-te o jogo/telemóvel (por ai fora) que andas a pedir». Vamos lá ver, pergunto: Não será a obrigação das crianças/adolescentes trabalharem para ter resultados na escola? Caso não tenham os resultados esperados não será a obrigação dos pais ajudá-los a tê-los? 
É muito mais fácil dar do que trabalhar com os filhos. Resposta possível dos pais:«Saiu cedo, chego tarde e não tenho tempo para os ajudar». País um conselho: Se investissem na educação dos filhos, poupariam muitos euros e não haveria necessidade de andar a gastar dinheiro em produtos que não o vão ajudar, mas sim torná-lo mais materialista e manipulador. Isto não é Educar, isto é facilitar. 

Tenho observado este tipo de comportamento, que não é saudável para as crianças/adolescentes, sendo ele um reflexo na escola, no infantário, nos centros públicos. 
A função dos pais é dar educação transmitindo aos seus filhos as regras e os valores. Provavelmente, alguns pais diriam: «Não tenho tempo para educar e transmitir valores». Caros pais, tempo existe quando se trata dos NOSSOS filhos. É mais uma desculpa para não se darem ao trabalho de educar.

Ao longo, do meu percurso profissional:
Conheci pais, que se pudessem colocavam os filhos até ao domingo nos centros de estudo/amas só para não os aturar. 
Conheci pais que acham que os professores e educadores, devem educar os filhos e que «nós»(professores e educadores) somos responsáveis pelo mau comportamento dos filhos na escola. 
Conheci pais que tratam os filhos adolescentes como se tivessem 1 ano de idade, o que infantiliza a criança no seu crescimento.
Conheci pais mentirosos que transmitem essa mesma «regra», se podemos chamar de regra, aos filhos como se fosse algo de maravilhoso.
Conheci pais que não dão valor aos filhos, dizendo que vieram ao mundo por engano.
Conheci pais que são educados pelos filhos, ou seja, são os filhos que impõem as regras.
Conheci filhos que são os pais, absolutamente mal criados com os pais, mesmo ameaçam os pais em frente aos professores/educadores.
Conheci pais arrogantes e sem qualquer tipo de conduta educativa.
Conheci pais que transmitem aos filhos:«Se o professor te reprimir, deves dar resposta». 
Conheci pais que se preocupam com os filhos de forma correta e saudável.

Nem tudo é mau no meio destes pais. 

Este artigo não é uma «lição» de como os pais devem educar os seus filhos, mas mostrar que a educação é fundamentalmente importante que seja dada em casa, não são professores, educadores e auxiliares que o vão fazer, a responsabilidade é dos pais de o fazerem.

A Educação é muito importante para os filhos no futuro, sem ela, o caminho que os filhos farão poderá ser um caminho doloroso e a responsabilidade é só dos pais.  

Agora suponhamos que podemos juntar a família autoritária e a família liberal, o que poderá originar? Poderia originar aquela a que chamo de família «top». Esta família sabe estabelecer regras e valores, recriminando e castigando na hora certa, e justificando o porquê do castigo.
É uma família que respeita o outro pela sua individualidade, respeita o espaço, as regras e as normas são ensinadas de forma a que o individuo entenda a sua essência de forma saudável e correta. 
Existe liberdade responsável. Ou seja, os filhos têm liberdade de fazer algo, mas caso não corra como esperado serão responsabilizados pelos atos. 
Este tipo de família existe. O trabalho para que tudo funcione é muito mais trabalhoso, requer tempo e paciência, para que a Educação e a transmissão de valores seja reconhecida como um bem valioso. 


Portanto,a família poderá ser um ambiente de amor e serve de refúgio contra os problemas do dia a dia. Ela é algo único e insubstituível, extremamente necessário para a formação do ser humano, passando pela dedicação da educação e transmissão de valores em casa, no Lar, só assim poder-se-á criar gerações saudáveis e fortes, que saibam respeitar a si próprio e o outro. 


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Será que o mundo ficou surdo?

Será que o mundo ficou surdo? 

Vou dando conta que o mundo parece que se fechou ou ficou surdo de vez. Não escuta o outro, e quando escuta é de forma agressiva ou de indiferença. Acredito que a situação do país faz com que as pessoas se fechem dentro do seu próprio umbigo esquecendo o mundo a seu redor. Que o stress, os problemas económicos, políticos, religiosos, sociais e até mesmo a questão do desemprego sejam razões mais que viáveis para deixarmos de escutar o outro. 
Mas pergunto se escutar o outro não faz parte da convivência social? Escutar ou ser escutado não é um passo para que alguns problemas fiquem pequeninos? Não digo que desapareçam, mas ajuda ás vezes esquecer para que um sorriso na nossa cara surja. Já dizem os especialistas que sorrir proporciona qualidade de vida. 

Escutar é mais do que ouvir. Implica uma atitude de assimilar a mensagem de forma profunda que permita a todos compreenderem o seu significado. 
Escutar é essencial para que a relação de comunicação com outro seja estabelecida. Se alguém se dirige a nós devemos nos esforçar para compreender o sentido da mensagem; se somos nós que nos dirigimos a alguém, temos de ter a certeza que a mensagem transmitida é compreendida pelo outro. 

Existem alguns princípios que permitem melhorar a capacidade de escutar:
1. Concentrar-se no que é dito;
2. Saber deixar falar;
3. Colocar-se em empatia com o outro;
4. Reagir às ideias expressas e não à própria pessoa;
5. Eliminar provisóriamente as nossas emoções pessoais;
6. Não interromper o outro;
7. Eliminar juízos de valor;
8. Olhar com atenção para o outro;

Contudo, saber escutar implica saber ouvir o outro, ou seja, é importante reforçar a qualidade da comunicação e do empenho dos intervenientes da comunicação(os interessados). Quando exprimimos as nossas reações e reagimos ao comportamento dos outros, implica que devemos seguir determinadas regras eficazes para que a comunicação entre os dois interlocutores seja saudável e viável.

1. Temos de dizer o que sentimos e o que vemos, e não fazer juízos de valor;
2. Devemos ser específicos e não andar em «rodeios» utilizando teorias abstratas;
3.Devemos centrar a nossa resposta no comportamento da pessoa, evitando os juízos de valor sobre a mesma;
4. Devemos reforçar a auto-estima da pessoa valorizando-a;
5. Devemos evitar conselhos que podem levar à frustração;
6. Devemos ser oportunos na hora exata;
7. Devemos estar atentos ao que se diz ou aos que se faz;
8. Devemos ser construtivos no sentido de ajudar o outro;
9. Devemos saber parar e não continuar a reforçar uma ideia negativa;
10. Devemos evitar a ironia/sarcasmo;
11. No trabalho enquanto equipa devemos sempre pensar no «nós».

Sejamos uns para os outros. Devemos parar e escutar ou ser escutado, faz parte da essência de todo o ser humano. 
Vou citar um poema de Y. Blondel que retrata a nossa sociedade atualmente e , por vezes, do nosso comportamento em relação ao outro, e vice-versa.

«Eles e eu...Não é estranho?

Quando ele não acaba o seu trabalho, digo: é preguiçoso
Quando eu não acabo o meu trabalho, digo: estou muito ocupado
Quando ele fala de alguém é maledicência
Quando eu falo de alguém é critica construtiva
Quando ele mantém o seu ponto de vista é teimoso
Quando eu mantenho o meu ponto de vista sou firme
Quando ele não me fala é uma afronta
Quando eu não lhe falo é um simples esquecimento
Quando ele demora muito tempo a fazer qualquer coisa é lento
Quando eu demoro muito tempo a fazer qualquer coisa sou cuidadoso
Quando ele é amável é porque tem segundas intenções
Quando eu sou amável é porque sou virtuoso
Quando ele vê os dois aspetos de uma questão é um oportunista
Quando eu vejo os dois aspetos de uma questão tenho um espírito aberto
Quando ele é rápido a fazer qualquer coisa é descuidado
Quando eu sou rápido a fazer qualquer coisa sou hábil
Quando ele faz qualquer coisa sem lhe pedirem é um intrometido
Quando eu faço qualquer coisa sem que mo peçam tenho iniciativa
Quando ele defende os seus direitos é um egoísta
Quando eu defendo os meus direitos mostro que tenho caráter
Sim... é muito estranho!»

A nossa sociedade retratada num poema...o NÓS...e os OUTROS.
  

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

«Comportamento gera comportamento» - a importância do comportamento na nossa vida

Nenhum ser é indiferente a outro, quando está em relação com ele.

A maneira com nós nos comportamos afeta a maneira como os outros se comportam. 


O nosso comportamento afeta sempre, positiva ou negativamente a relação que estabelecemos com os outros.

O ser humano deve ter a capacidade de se ajustar, em termos comportamentais,àqueles com quem se relaciona, isto porque, o mesmo comportamento pode não ser, do mesmo modo, eficaz para todo o género de pessoas com quem contactamos.

Se desejamos que as pessoas com quem nos relacionamos modifiquem o seu comportamento porque ele «nos afeta» e «prejudica a nossa relação com elas», temos de agir no sentido de modificarmos,nós próprios, o nosso comportamento, quando com elas nos confrontamos. 

As pessoas não se comportam do mesmo modo em todas as situações. Elas têm a capacidade de percepcionar a realidade e ajustar-se a ela, em termos comportamentais, de modo a facilitar e tornar positivas as relações interpessoais. 

Todos nós devemos estar atentos ao nosso comportamento e ao modo como comunicamos verbalmente e não verbalmente, porque isso influencia, intensa e significativamente, o modo como o outro se relaciona connosco. 

O comportamento não é algo com que se nasça, como a cor dos olhos ou a cor do cabelo. É algo que nós vamos adquirindo ao longo da nossa vivência e que podemos modificar e ajustar quando a situação o exige, sempre em função da excelência da comunicação e da relação interpessoal.

As pessoas devem ter a abertura suficiente para experimentarem novas formas de comportamento e de comunicação que permitam o seu ajustamento, cada vez mais eficaz, à relação com os outros.

O comportamento profissional, em particular, pode assemelhar-se a uma máscara, isto porque o sujeito dever ser exemplar na sua relação: simpático, aberto, atencioso, prestável e comunicativo mesmo que, em termos sentimentais e emocionais, devido a condicionalismos diversos da sua vida, tais comportamentos não correspondem ao seu estado atual.

Contudo, devemos ter em conta os princípios gerais do comportamento que podem influenciar a nossa vida pessoal e profissional:

1. Seja um bom ouvinte
2. Tente compreender as reações dos outros
3. Tente conhecer os outros
4. Não veja só os seus interesses
5. Aceite o sucesso dos outros
6. Conheça-se a si mesmo
7.Não tenha mudanças repentinas no seu comportamento
8. Não pense que é o rei de tudo e de todos


Resumidamente: «Agressividade gera Agressividade»

                          «Simpatia gera Simpatia»

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Educação em Cidadania - papel do Educador Social

Com a evolução da sociedade, a ruptura familiar, a perda de valores fiz questão de escrever sobre a importância da cidadania, ou seja, educar para os valores.

O que é a Cidadania? 
Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis,políticos e sociais estabelecidos na constituição. Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos e obrigações e lutar para que sejam colocados em prática. Exercer a cidadania é estar em pleno gozo das disposições constitucionais. Preparar o cidadão para o exercício da cidadania é um dos objetivos da educação de um país.
Contudo, tudo isto é uma ilusão, visto que, não conseguimos ultrapassar a ligação indivíduo/comunidade, a construção dos sistemas/regimes políticos e a incapacidade de aceitar o outro nos direitos/deveres. A falta de garantia dos direitos de cidadania(políticos, sociais e económicos), implica uma nova abordagem à construção da própria cidadania. O aumento ou a diminuição das desigualdades e das anulações diversas(éticas), passa pela solidariedade, pela responsabilidade de construir um projeto direccionado para a Cidadania. 
Temos de recuar um pouco - Revolução Francesa - que veio mostrar uma nova imagem dos direitos humanos, tendo como pilares fundamentais: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Hoje, continuamos a tentar trabalhar para estes três pilares para uma convivência saudável entre indivíduo/comunidade. 
O exercício da cidadania está implícito em 5 pontos fundamentais:
  1. Direitos e garantias: direitos e garantias pessoais; direitos, liberdades e garantias de participação politica; direitos económicos, sociais e culturais; direitos e deveres económicos; direitos e deveres sociais (segurança social e solidariedade, saúde, habitação e urbanismo, ambiente e qualidade de vida, família, paternidade e maternidade, infância, juventude, cidadãos portadores de deficiência e terceira idade); direitos e deveres culturais.
  2. Organização politica e administrativa (presidente da republica, assembleia da republica, governo, tribunais, organização administrativa do poder).
  3. Organizações e organismos internacionais (União Europeia, direitos à construção de uma cidadania europeia, Organização das Nações Unidas).
  4. Deveres da cidadania: contributos para a construção de uma cidadania responsável (não efectivação dos direitos e garantias às desigualdades e desfavorecimento social, exclusão social, da exclusão às discriminações - as minorias étnicas e as mulheres, deveres da cidadania).
  5. Cidadania no espaço escola criando Área de projeto, Estudo Acompanhado e Formação Cívica: participação institucional dos alunos na vida da escola, assembleia de escola, conselho executivo, conselho pedagógico, conselho administrativo, delegado e subdelegado de turma e associação de estudantes. 
A cidadania pode ser dividida em duas categorias: cidadania formal e substantiva. A cidadania formal é referente à nacionalidade de um indivíduo e ao fato de pertencer a uma determinada nação. A cidadania substantiva é de um caráter mais amplo, estando relacionada com direitos sociais, políticos e civis.
A educação para uma cidadania sã reside em ter consciência no respeito por si e pelo outro, partindo da aquisição de competências sociais, aqui surge a Educação Social. 
A Educação Social assenta-se em 4 pilares importantes: 
  1. Aprender a conhecer que significa dominar os instrumentos do conhecimento, o desenvolvimento do desejo e das capacidades de aprender a aprender. O desenvolvimento de habilidades cognitivas e a compreensão do mundo que o cerca.
  2. Aprender a fazer que significa conhecer e fazer. Aprender a fazer implica no desenvolvimento de competências que envolvem experiências sociais e de trabalho diversas que possibilitem às pessoas enfrentar, de forma mais autêntica, às diversas situações e a um melhor desempenho no trabalho em grupo.
  3. Aprender a viver juntos, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências, no sentido de realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos.
  4. Aprender a ser que significa que a educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa, isto é, espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade possibilitando ao mesmo, um potencial significativo que permita-lhe um pensamento reflexivo e crítico. Neste pilar,cabe à educação, conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento e discernimento para que os mesmos sejam capazes de construir a sua própria história com bastante dignidade.
Se a Educação Social, ou melhor, o Educador Social partir destes 4 pilares consegue elaborar projectos para o individuo/comunidade direccionados para a Educação de uma Cidadania saudável, reforçando as competências sociais e de cidadania, educar para a saúde e para a bioética, por fim, educar para um ambiente melhor(educação ambiental). 
A motivação será, sem dúvida, um dos melhores desafios, pois os projetos deveriam e devem estar direccionados para a comunidade escolar. 
 As entidades educativas deviam solicitar um educador social para que este faça a «ponte» entre alunos/professores/comunidade permitindo um enriquecimento e desenvolvimento de competências adicionais. 
Acredito se a comunidade escolar se unir conseguiremos que o respeito por si e pelo outro caminhem de «mãos dadas» para um futuro melhor. 


domingo, 13 de setembro de 2015

Maus Tratos Infantis - uma Reflexão

Os maus tratos infantis existem desde a Antiguidade em todo o mundo. Abusar de uma criança é uma realidade desde que existe a raça humana.

Nos povos antigos, os primogénitos eram espiões e sacrificados, vejamos na bíblia Abraão e Saul que tentaram sacrificar os seus filhos em nome de Deus. 

Na Grécia e Roma o infanticídio foi um modo de eliminar os recém-nascidos com algumas deformações, o abuso infantil era consentido e muitas crianças foram usadas para que os seus pais mostrassem a devoção aos deuses. 

Na Idade Média o termo “criança abandonada” não existia, elas eram conhecidas como “enjeitadas” ou “expostas”.
Naquela época a Europa havia passado por diversos períodos de fome, pobreza e à Peste Negra. Tais fatores levaram a população a abandonar seus filhos nas ruas e a cometer infanticídios. Esse estado de calamidade forçou a Igreja e as monarquias a criarem práticas de assistências às crianças expostas. 
No Séc.XIX, a proteção dos menores aumentava, os pais ou até mesmo os tutores que tentavam «cobrir» as violências físicas fez com que os maus tratos fossem estudados, formando medidas legislativas em favor das crianças vitimas contra os agressores.
No Séc. XX, surgem novos conceitos: criança maltratada ou criança abusada, isto implicava que a criança não era só vitima de maus tratos físicos, mas também maus tratos emocionais, eram abandonadas, com défice nutricional ou abuso sexual. Contudo, reforçou-se a ideia que os maus tratos não eram só realizados no ambiente familiar, como também em instituições ou pela própria sociedade. 
Os maus tratos em crianças e jovens constituem um grave e sensível problema social, de enorme obscuridade. Isto resulta de dois pontos importantes: 
1. Fatores culturais e socioeconómicos
2. Precariedade socioeconómicos, alcoolismo, toxicodependência, baixa formação escolar, desemprego e depressão/esgotamento e divórcio.
Hoje os maus tratos podem ser negligência, maus tratos físicos, abuso sexual e abuso emocional. Falaremos então dos vários tipos de maus tratos de forma simples. 
1. Mau trato intra-uterino(a mulher magoa de forma intencional o feto com a finalidade de interromper a gestação) e negligência intra-uterina(refere-se má alimentação, consumo de álcool, consumo de tabaco, consumo de medicamentos e o consumo de drogas).
2. Mau trato físico: síndroma da criança espancada (feitas a crianças muito pequeninas, onde as lesões não sendo graves são encobertas pelos agressores, servindo-se de todos os tipos de «ferramentas» para causar essas lesões). Fontana descreve esses mecanismos e instrumentos utilizados pelos agressores (1979,p. 43): "Os pais esmurram, flagelam, batem, esfolam, espancam, estrangulam, batem no estômago, asfixiam com panos e com malaguetas muito picantes, envenenam, abrem-lhes a cabeça, fazem-lhes golpes, rasgam-lhes o corpo, queimam-nos com vapor, azeite ou água a ferver.Utilizam punhos, fivelas de cinto, correias, escovas de cabelo, fios eléctricos, paus de baseball, réguas, sapatos, botas, correntes de bicicleta, atiçadores, facas, tesouras, produtos químicos, cigarros acesso, água a ferver, aquecedores de vapor e chama de gás."
São estes tipos de comportamentos que devemos denunciar e que infelizmente são muito frequentes, não esquecendo que existem pais que utilizam toalhas molhadas e rolos de jornais para agredir as crianças. 
3. Mau trato: Infanticídio. Este é o extremo do mau trato. São maus tratos físicos constantes a recém nascidos. Por outras palavras, é o homicídio cometido a uma criança. 
Nestes 3 tipos de maus tratos as crianças são diagnosticadas as seguintes lesões: Equimoses (pisaduras/hematomas), feridas/arranhões, queimaduras, alopecia (puxões de cabelo brutais e repetidos, que originam hematomas), fraturas das extremidades, lesões raquídeas (alteração na curva na coluna vertebral provocadas por pancadas com um pau, uma barra de ferro ou um bastão) e fraturas de costelas. 
4. Mau trato alimentar - desnutrição, desidratação e envenenamento.
5. Abandono e mendicidade (exploração do menor com coação física e com negligência na alimentação e higiene pessoal).
6. Mau trato emocional - é um dos maus tratos difíceis de diagnosticar comparativamente com os maus tratos físicos. É natural que muitas destas crianças nem apareçam nas urgências, pois o diagnóstico seria de mau feitio, delinquência, hiperatividade ou «uma fase que estão a passar». Contudo, este tipo de mau trato vai marcar de forma negativa o crescimento da criança quando é repudiada, aterrorizada, castigada, insultada e acaba por viver os problemas que a família apresenta. Podemos salientar que a alteração do comportamento da criança devido ao mau trato emocional podemos destacar as constantes mudanças e trocas de escolas, indiferença fria por parte dos progenitores, ausência de regras, excesso de disciplina ou a falta dela, incapacidade de reconhecimento da criança como ser humanos revestido de direitos ou até mesmo de não aceitar como criança, surgindo o incesto, insultos verbais com uma linguagem extremamente forte e agressiva. 
7. Abuso sexual. Traduz-se pelo envolvimento do menor em práticas no seu estado de desenvolvimento que visam a gratificação e a satisfação sexual do adulto ou jovem numa posição de poder ou de autoridade sobre aquele. Saliento sinais e sintomas que denunciam a existência de abuso sexual:
  • mudança do comportamento na escola;
  • diminuição do rendimento escolar;
  • insegurança extrema;
  • recusa ou medo de ficar com um adulto, ou sozinho com ele;
  • medo de algumas pessoas ou lugares;
  • perturbações do sono;
  • depressão, ansiedade, fobias;
  • afastamento ou indiferença;
  • auto-mutilação;
  • fuga;
  • masturbação excessiva, inquietação sexual com outras crianças;
  • irritação na vagina ou no ânus.
Contudo, o abuso sexual pode ser visto como:

  • Incesto (pai-filha(o); mãe-filho(a);irmão-irmã);
  • Abuso sexual fora da família: Pedofilia e Violação;
  • Prostituição e Pornografia infantil.
8. Negligência na segurança. Destacamos alguns tipos de acidentes:
  •  quedas;
  • asfixias;
  • queimaduras;
  • armas de fogo;
  • intoxicações;
  • acidentes de trânsito;
  • zangas domésticas;
  • negligência do cuidado médico(existem pais que recusam transfusões de sangue, intervenções cirúrgicas ou injecções para salvar a vida dos filhos, por motivos religiosos).
Em suma, detetar um abuso sexual ou mau trato físico/psicológico é muito difícil, muito mais é a sua prevenção. Assim sendo, os pais e a escola devem INFORMAR/EDUCAR as crianças dos perigos que estão expostas, não tendo vergonha nem medo de o fazer. Esse será o primeiro passo da prevenção.